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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A gravidez e o glúten


Imagem retirada da Net

 Já é conhecido o facto da intolerância ao glúten poder causar infertilidade masculina e feminina. Mas o que é que acontece quando a gravidez acontece e a ingestão de glúten continua? Encontrei dois artigos muito interessantes que aproveito para divulgar. O primeiro com base num estudo indiano que aborda o tema dos efeitos da doença celíaca latente, ie, com serologia positiva e biopsia negativa, sobre a capacidade reprodutiva da mulher; o segundo é um artigo da Associação Portuguesa dos Nutricionistas que refere um estudo dinamarquês que pesquisou os efeitos da dieta sem glúten (ou a sua falta) no desenvolvimento da gravidez.


1º “Doença celíaca latente no desempenho reprodutivo das mulheres
As mulheres com doença celíaca latente – com anticorpos celíacos positivos, mas com uma biopsia do intestino delgado normal - podem ter um risco aumentado de problemas reprodutivos, reportam pesquisadores indianos num trabalho publicado a 24 de Novembro de 2010 na revista online “Fertility and Sterility.”

"As mulheres com infertilidade inexplicada, abortos de repetição, nados-mortos ou fetos com restrição do crescimento intra-uterino podem ter a doença celíaca sub-clínica, que pode ser detectada por testes de triagem serológica," diz o Dr. Ashok Kumar à Reuters Health por e-mail.

Dr. Kumar, do Maulana Azad Medical College & Hospital Lok Nayak, de Nova Deli, e os seus colegas observam que "a prevalência de doença celíaca latente ou sub-clínica têm aumentado" devido à disponibilidade de melhores e mais acessíveis ferramentas de triagem diagnóstica.

As mulheres com doença celíaca activa e não tratada, confirmada pela biopsia, são conhecidas por terem problemas reprodutivos se não cumprirem rigorosamente uma dieta livre de glúten. Mas, como ressaltam os autores, "Há muitos poucos estudos sobre o efeito da doença celíaca latente no desempenho reprodutivo; a associação nunca foi investigada na Índia."

Para isso, os pesquisadores estudaram 893 mulheres. Destas, 104 sofriam de abortos recorrentes idiopáticos, 104 tiveram nados-mortos sem razão conhecida, 230 tinham infertilidade inexplicada, e 150 estavam grávidas e tiveram restrição de crescimento intra-uterino idiopático. As restantes 305 mulheres, com histórias normais de obstetrícia, actuaram como controle.

Comparando com o grupo-controle, e com base em títulos de anticorpos IgA tTG, a doença celíaca latente tinha 5.43 vezes mais hipóteses de ocorrer no grupo com aborto espontâneo recorrente. A prevalência foi de 4.61 vezes maior no grupo com nados-mortos, 7.75 vezes no grupo com restrição de crescimento intra-uterino, e 4.51 vezes naquele com infertilidade inexplicada.

Os pesquisadores também observam que as taxas de nascimentos prematuros anteriores, de baixo peso ao nascer, e cesariana foram maiores nos seropositivos do que em indivíduos seronegativos.

Os pesquisadores admitem que nem todos os estudos reflectem uma associação com a redução da fertilidade, mas um número deles indica que existe um maior risco de resultados desfavoráveis. Os riscos também podem ser reduzidos quando a doença for reconhecida e tratada com uma dieta sem glúten.

Além disso, estes salientam que a “a apresentação clássica de diarreia e má-absorção é cada vez menos comum, e as apresentações atípicas e silenciosas estão a aumentar.”

À luz destas conclusões, o Dr. Kumar afirma que “a serologia para a doença celíaca deveria estar incluída no conjunto de exames nos casos idiopáticos de fraco desempenho reprodutivo.”



2º “Gestantes celíacas e risco de nascimento de bebés prematuros 
Um estudo realizado por um grupo de investigadores dinamarqueses verificou que, mulheres celíacas que não aderem ao tratamento da exclusão de glúten da dieta, podem apresentar uma maior probabilidade de terem filhos prematuros ou com baixo peso no momento do nascimento.

Khashan A.S. et al analisaram o peso ao nascimento e o tempo de gestação de mais de 1400 bebés nascidos de mães celíacas. Destes, 1105 bebés nasceram de mães diagnosticadas com a doença, que seguiam o tratamento com dieta sem glúten, e 346 bebés nasceram de mães, cuja doença foi diagnosticada apenas após o nascimento dos seus filhos (consideradas como “celíacas não tratadas” durante a gestação). A equipa considerou que as mães com diagnóstico de doença celíaca seguiam uma dieta isenta de glúten, e aquelas com doença celíaca não diagnosticada seguiam uma dieta que incluía glúten. Os resultados foram baseados na análise do peso ao nascimento e da idade gestacional.

Foi verificado que, no caso das mães celíacas não tratadas, o peso dos bebés ao nascimento foi significativamente menor que o peso de crianças nascidas de mães não celíacas, mesmo daquelas com o mesmo tempo de gestação. Além disso, a probabilidade de estas terem um parto prematuro era maior no caso de mães celíacas não tratadas. No entanto, não foram encontradas diferenças entre o peso e tempo de gestação de recém-nascidos de mães não celíacas e mães celíacas tratadas para a doença.

Este estudo conduz-nos para a importância do diagnóstico precoce da doença e de mulheres grávidas com doença celíaca manterem uma dieta isenta de glúten no sentido de reverterem os efeitos da doença sobre o peso final e gestação do feto.”

Outros artigos:
Intolerância ao Glúten, Infertilidade e Gestação de Risco
Reproductive Changes Associated with Celiac Disease
Celiac disease: an underappreciated issue in women’s health
Celiac disease linked to miscarriages and preterm deliveries

9 comentários:

Anónimo disse...

Olá,
Obrigada pelo post, eu poderia ter feito parte desses estudos. Descobri ser celíaca depois de uma segunda gravidez complicada, com anemia, ameaça de parto pré-termo e restrição de crescimento intra-uterino.
A minha filha nasceu às 36 semanas, muito pequena. Também não tive muito leite para amamentar. Só quando fui diagnosticada por diarreia crónica é que fiz a ligação.
Lamento não ter sido diagnosticada antes, sempre tive anemia, mas nunca fiz testes para a DC. Se soubesse ser celíaca, tinha, de certeza, feito a dieta durante a gravidez. Fica o meu testemunho, como alerta.
Sónia Gomes

nocontemgluten disse...

Olá! Tive duas gestações muito complicadas, com os dois partos prematuros e bebês bem pequenos. Sendo que meu segundo filho nasceu com problemas respiratórios graves. Infelizmente nem desconfiava da Doença celíaca, portanto não fazia dieta...Excelente post!

Lucente disse...

Olá Sónia e Sílvia, obrigada pelos testemunhos, não há como as experiências pessoais para validar o que os estudos dizem. Realmente, é pena que demore tanto para diagnosticar a intolerância ao glúten... mas, de certeza, que os bebés já estão bem crescidos e muito saudáveis, não é?

Unknown disse...

Ola, me chamo Vanessa e descobri que sou celíaca à 1 ano e meio, quero muito engravidar e faz 5 aos que tento e não consigo. Fiz exames q resultarem em doença celíaca, agora com a diéta do gluten até a menstruação que nunca foi regular está voltando ao normal, espero que agora eu consiga engravidar enfim.

Lucente disse...

Obrigada pelo testemunho Vanessa! Tudo de bom, de certeza que em breve vai ter boas notícias ;-)

Elizabeth disse...

Vanessa: por favor nao deixe de participar de alguna Acelbra (associação de celíacos). Eu só consegui zerar os anticorpos contra glúten depois de 1 ano e meio de participar da Acelbra. Toda.vez que eu ia durante esse período descoberta alguma coisa que eu fazia que estava me contaminando. Mesmo hoje depois de 3 anos sigo aprendendo informação importante para nós. Lembre.se que a rotulagem não é segura, é por isso que precisamos das Acelbras. E a outra parte é: obedecer direitinho e saber dizer não! Não ter farinha em casa, não respirar farinha em outros lugares, e cuidar bem com a contaminação. Se quiser mais dicas pode me contactar.
Gaflorianopolisga@gmailm.com
Beijos e boa dieta!
Graci

Elizabeth disse...

Oi, Vanessa. Vai numa Acelbra. Só consegui ter os meus anticorpos regulares depois de um ano de ir lá e voltar toda vez com alguma coisa que eu precisava mudar porque estava.me contaminando. Se quiser mais dicas: gaflorianopolisga@gmail.com

Adriana Mindêllo disse...

Ola,

Descobri a doença celíaca há ceca de quatro meses e desde então cortei o glúten, entretanto, como não tenho sintomas com a contaminação, nunca sei ao certo se algo me contaminou, por isso ainda estou em um processo de aprendizado.
Tenho uma dúvida sobre a questão da gravidez. Leio em vários artigos na internet sobre problemas de fertilidade em doentes celíacos não tratados, mas gostaria de saber quais são os riscos de um doente em tratamento e com a restrição alimentar adequada. Se alguém puder me informar agradeço bastante.

Lucente disse...

Adriana,
Se ler este artigo disponível na lista de outros artigos, lá explica-se que as mulheres com doença celíaca tratada, ie, sem presença de anticorpos, com mucosa duodenal normal e dieta rigorosa terão a mesma probabilidade de gravidez saudável do que mulheres sem DC.

http://www.todaysdietitian.com/newarchives/040510p22.shtml

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