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DADOS, DICAS E RECEITAS DE VIDAS SEM GLÚTEN



quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A biópsia no diagnóstico de DC


Imagem retirada da Net

Apesar da recente perda de importância que a biópsia tem vindo a sofrer como o instrumento de diagnóstico preferencial da doença celíaca (DC), ainda é, em muitos casos,a técnica que "fecha" o diagnóstico. Mas, como em tudo na vida, não é perfeita: depende dos bons conhecimentos do médico que a realiza e depende da experiência e bom olho clínico do patologista que examina os espécimes. No artigo que hoje apresento aborda-se a questão do número de espécimes a retirar, sendo que quatro é o número minímo, mas é uma recomendação que muitos médicos ignoram (sem falar daqueles que acham que o diagnóstico é feito a olho nú e não retiram espécime nenhum... como já ouvi uma médica dizer).

A fase de análise patológica é de extrema importância e a prova de que a mesma foi bem feita, é a expressão dos resultados segundo a Escala de Marsh. As alterações patológicas no intestino delgado detectadas por biópsia são caracterizadas num espectro de anormalidades descritas por Marsh e conhecido como a Escala de Marsh. O diagnóstico da DC é feito, habitualmente, quando se estabelece um nível de Marsh 3 ou atrofia das vilosidades; no entanto, esta atrofia pode ser irregular ou presente em outros transtornos como hipogamaglobulinemia, gastrenterite infecciosa aguda, ou intolerância ao leite. Além disso, há crescente evidência de que a DC deve ser diagnosticada quando começam a aparecer alterações, tais como nos níveis de Marsh 1 ou 2, quando existe também seropositividade e boa resposta à dieta: 

Espectro histológico do envolvimento intestinal na Doença Celíaca
• Marsh 0: normal
• Marsh I: lesão inflitrativa; linfócitos intraepiteliais aumentados
• Marsh II: lesão hiperplásica (tipo 1 com hiperplasia das criptas)
• Marsh III: lesão destructiva (tipo 2 com atrofia vilositária)
• Marsh IV: lesão hipoplásica como no linfoma de células T

Deste modo, convém ter presente estas questões quando se apresenta para uma endoscopia. O artigo que se segue é da Science Daily.

"Baixa adesão às directrizes para biópsia afecta o diagnóstico da doença celíaca nos Estados Unidos

ScienceDaily (7 de julho de 2011) - Um novo estudo descobriu que a maioria dos pacientes submetidos à biópsia do intestino delgado não faz o número recomendado de amostras para diagnosticar a doença celíaca. O estudo, publicado na edição de julho de 2011 da revista Gastrointestinal Endoscopy, analisou um banco de dados nacional de biopsias mantidos por Life Sciences Caris,  em Irving, Texas. Mais de 100.000 pacientes fizeram uma biópsia do intestino delgado, mas apenas 35 por cento deles tinha pelo menos quatro amostras recolhidas, o número recomendado por orientações profissionais.

A doença celíaca é comum, afectando aproximadamente 1 por cento da população nos Estados Unidos. No entanto, a grande maioria dos pacientes com doença celíaca nos Estados Unidos não estão diagnosticados. Muitos destes doentes procuram os serviços de saúde para os sintomas, incluindo diarreia, perda de peso, ou fadiga devido à anemia. O diagnóstico da doença celíaca é feito por biópsia do intestino delgado, mas factores relacionados com o desempenho da biópsia pode contribuir para o sub-diagnóstico da doença celíaca nos Estados Unidos.

"A doença celíaca pode afectar o intestino delgado numa distribuição irregular, e assim com apenas uma ou duas amostras de biópsia poder-se-ia perder a evidência da doença", disse o autor Benjamin Lebwohl, MD, MS, gastrenterologista do Centro de Doença Celíaca na Universidade de Columbia University Medical Center, em Nova Iorque. O  Dr. Lebwohl e co-autores tiveram como objetivo medir a prática da pequena biópsia intestinal nos Estados Unidos. O banco de dados de patologia  Caris consiste em amostras submetidas pelos gastrenterologistas de 43 estados, assim como de Porto Rico e do Distrito de Columbia. A equipa também comparou a taxa de diagnóstico entre os pacientes que tiveram pelo menos quatro amostras submetidas, de acordo com as orientações.

Os investigadores identificaram 132,352 indivíduos submetidos à biópsia entre 2006 e 2009, com uma variedade de indicações médicas, incluindo diarreia, dor abdominal, refluxo esofágico, e anemia. Apenas 35 por cento deste grupo tiveram pelo menos quatro amostras submetidas, e o número mais comum de amostras submetidas foi dois. Mas a adesão à recomendação de apresentar pelo menos quatro espécimes mais do que duplicou a taxa de diagnóstico de doença celíaca.

Mesmo quando os médicos indicaram que havia suspeita de doença celíaca (por exemplo, quando os pacientes apresentavam resultados positivos nos exames de sangue da doença), menos de 40 por cento dos pacientes tiveram, pelo menos, quatro amostras submetidas; o diagnóstico aumentou sete vezes quando as orientações foram seguidas.

"O processo de aumentar o número de espécimes de 2 para 4 leva, aproximadamente, um minuto extra durante a endoscopia", disse o Dr. Lebwohl. Dado o alto rendimento incremental de apresentar pelo menos quatro amostras, demorar este minuto extra parece ser justificado.

"Neste estudo identificamos apenas um dos factores que contribuem para a alta taxa de sub-diagnóstico da doença celíaca nos Estados Unidos. Pretendemos estudar outros factores relacionados com o médico que também podem ser operatórios", disse o Dr. Peter Green, Director do Centro de Doença Celíaca da Columbia University Medical Center, que também é um dos autores deste estudo."

Outros artigos:
Coeliac disease: The histology report

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A história da Jaime

A National Foundation for Celiac Awareness é uma ONG norte-americana que trabalha para a divulgação da doença celíaca. O seu site é muito completo e tem, inclusive, uma página onde as pessoas podem deixar os seus testemunhos. Seleccionei este que agora apresento pelas semelhanças com o caso do meu filho mais velho, ainda que estes pais tenham esperado 5 anos por um diagnóstico e nós, 4 meses.

“A minha filha foi recentemente oficialmente diagnosticada com a doença celíaca. Ela tem 6 anos. Quando tinha cerca de 12 meses de idade, começou a deslizar nas curvas de percentis. Ela começou no percentil 55 e, em apenas 3 meses, desceu para o quinto quando começou a perder peso. Passamos por tantos testes e exames. Ela também começou a não comer refeições completas.
Fomos informados pelos pediatras de que ela tinha níveis elevados de IgG e que eles estavam preocupados com a doença celíaca. Fomos aos especialistas em gastrenterologia do hospital das nossas crianças e eles disseram que minha filha, definitivamente, não tinha a doença celíaca porque o seu IgG estava negativo. Eles não recomendaram biópsia e disseram que deveríamos esperar.
A minha filha finalmente começou a ganhar peso, apenas meio quilo, dos 18 aos 24 meses. Nesta altura, ela estava bem abaixo do percentil 3 de altura e peso. No meio tempo, ela desenvolveu problemas terríveis nos intestinos, olheiras enormes sob os seus olhos, e recusava-se a comer mais do que 10 colheres por refeição apesar de estar sempre a dizer que estava com fome.
Avançando alguns anos e estávamos de volta ao pediatra, a pedir para nos ajudar a descobrir o que estava a acontecer. Então, tinha-lhe sido diagnosticado um atraso na fala, um nariz que sangrava 4-5 dias por semana, as suas pernas doíam tanto que ela não podia andar muito a maior parte do tempo, demorava 3-4 horas para comer todas as refeições com dores de barriga constantes. Os médicos testaram-na para cancro e outras doenças más e tudo estava muito bem... excepto que ela estava deficiente em vitaminas e estava anémica. Continuamos a perguntar sobre a doença celíaca, mas continuamos a ser informados de que os seus níveis de IgG estavam bem e que devia ser outra coisa.
Finalmente, decidimos iniciar uma dieta sem glúten. Estávamos sem pistas. Nós pensamos que não iria fazer muita diferença, mas tive que descobrir se iria ajudar. Em 6-8 semanas, tivemos uma filha diferente. Mais energia, refeições completas, sem estômago dilatado, sem olheiras, sem anemia, e como ela realmente gostava de comer!
Um ano depois, ela está a ser desligada da terapia da fala- eles disseram-nos que nunca viram uma criança recuperar tão rapidamente. Ah, e ela está feliz e a ganhar peso tão rapidamente. Tivemos a sorte de encontrar o Centro da Doença Celíaca através da Universidade de Maryland, e eles foram maravilhosos. O nosso único arrependimento é ela ter passado tantos anos, tão doente, sem razão.
Estou esperançosa de que os gastrenterologistas continuem a tornar-se melhor informados sobre a doença celíaca e a ler as análises de sangue em crianças, pois sabe-se agora que que, muitas vezes, o IgG é negativo em crianças menores de 2 anos. Espero que alguém nesta situação encontre um centro de doença celíaca ou um especialista nessa doença e obtenha respostas para a saúde do seu filho.”

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Bolo de mel e azeite

A propósito de um lanche sem glúten oferecido pela simpática Susana do blog Viver Sem Gluten, Sem Lactose, fiz um bolo de mel e azeite pois a receita original que encontrei parecia-me fácil de adaptar. Neste caso, usei leite de soja de modo a que todos pudessem comer um pedacinho, mas, obviamente, pode-se usar leite de vaca. Saiu bastante fofo e ligeiramente húmido, em suma, um bolo muito agradável. Obrigada pelo convite Susana!

Ingredientes :
4 ovos
100g de açúcar
50g açúcar mascavado
60g de mel
100 ml de azeite
200 ml de leite
200g de farinha (usei Mix Dolci da Schar)
25g de farinha de grão de bico
25g de polvilho
½ colher de sopa de fermento em pó
1colher de chá de erva doce
1colher de chá de canela

Misture as farinhas com o fermento, a canela e a erva-doce. Reserve.

Separe as gemas das claras e bata-as em castelo. Reserve.

Bata muito bem as gemas com o açúcar e o mel. Junte o azeite e depois o leite em fio, sem parar de bater. Acrescente a mistura de farinhas e misture tudo muito bem sem bater. Por fim, incorpore as claras em castelo na massa com cuidado.

Deite a massa na forma (usei uma forma redonda de 22cms de diâmetro) e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC durante 50 minutos. Deixe arrefecer e desenforme para uma rede de arrefecimento. Decore como entender, eu usei açúcar em pó mas também se pode polvilhar com canela.






sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Queques de framboesa

Com o aproximar do dia de São Valentim, a blogosfera gastronómica, com glúten e sem glúten, andou a postar toneladas de receitas de cupcakes e bolos tingidos a vermelho, para comemorar os corações apaixonados. Cá em casa, entre dois miúdos, felizmente, cheios de energia, a casa e o trabalho, a paixão ficou para segundo lugar. Logo, só houve tempo de adaptar esta receita e criar uns lusos queques de framboesa... por falar nisso, porque é que já ninguém neste país, desde que começou a febre dos cupcakes, utiliza a palavra queques? Os cupcakes não passam disso, queques que acham que são gourmet. Além disso, queque já é em si um estrangeirismo, logo deveria ser "chique" só por si. Mas já estou a divagar.

Aproveitei a ida ao IKEA para comprar a panela de ferro fundido, e comprei esta forma de queques que resolvi então experimentar. É óptima porque é anti-aderente, logo não precisei de  untar a forma, actividade que me desagrada particularmente e a razão porque tento usar, sempre que possível, formas de silicone. Claro que o marido não achou piada eu trazer mais objectos para uma cozinha a rebentar pelas costuras de acessórios mais ou menos úteis, mas isso agora não interessa nada, como diria a outra senhora. Eis a receita:

Ingredientes:
200 gramas farinha
150 gramas açúcar
1/2 colher de chá de bicarbonato de sódio
1/4 colher de chá de sal
100 gramas manteiga sem sal amolecida
2 ovos grandes
1 colher de chá de essência de baunilha
140 ml água morna
Framboesas
Cobertura
100 gramas de chocolate preto

Numa tigela misture a farinha com o açúcar. Adicione o bicarbonato e o sal. Reserve.
Derreta a manteiga no micro-ondas e deixe arrefecer ligeiramente. Adicione os ovos, a água e a essência de baunilha à manteiga e bata bem. Adicione a mistura do ovo e manteiga aos ingredientes secos e misture até que a massa esteja macia.
Encha a forma dos queques a 2/3. Coloque uma framboesa dentro de cada forma, de modo a que esta se veja ligeiramente à superfície.
Coza em forno, pré-aquecido a 175ºC, durante 5 minutos. Baixe a temperatura para 160º C e coza durante mais 10 a 12 minutos até que um palito saia seco. Deixe nas formas durante alguns minutos e coloque, depois, os queques numa rede de arrefecimento. Deixe arrefecer completamente antes de aplicar a cobertura.
Para elaborar a cobertura, coloque o chocolate numa tigela e leve ao micro-ondas. Em intervalos de 30 segundos, vá derretendo o chocolate. Quando este tiver amolecido, mexa para eliminar grumos e passe os topos dos queques no chocolate até criar uma cobertura homogénea.






















terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Diagnóstico na terceira idade

Este post vem a propósito de duas situações de que tive conhecimento que reflectem a noção ainda muito prevalente de que a intolerância ao glúten é uma doença infantil: num caso, uma médica dizia que um menino de seis anos não poderia ser celíaco pois isso era uma doença que aparecia até aos dois anos e noutro, outra médica dizia que um homem com 63 anos só muito dificilmente poderia ser diagnosticado como doente celíaco. 

A intolerância ao glúten é mais fácil de diagnosticar na infância pois apresenta-se (ainda que cada vez menos) com sintomas-tipo: diarréia ou obstipação, irritabilidade, anemia, atraso no crescimento, abdómen dilatado. No entanto, há crianças que passam debaixo do radar ou porque têm sintomas atípicos, ou por ignorância médica, e tornam-se adultos doentes que irão receber vários diagnósticos. Chegados a certa idade, os sintomas agudizam e/ou encontram um médico informado e são diagnosticados.

Há ainda aqueles em que a intolerância ao glúten se activa mais tarde, por causa de uma infecção, uma cirurgia, um período de stress, ainda não se sabe porquê. Há uma teoria que defende que a manipulação genética do trigo das últimas décadas, para que este contenha mais glúten, contribui para o grande aumento de casos de intolerância ao glúten. A lógica é que pessoas que toleravam algum glúten deixam de tolerar quando a quantidade deste aumenta.

Independentemente disso, os médicos não podem por o diagnóstico de intolerância ao glúten de lado só porque o paciente tem mais de 18 anos. O artigo que trago é uma entrevista, publicada pelo Daily Mail, a um médico inglês que foi diagnosticado com doença celíaca aos 64 anos.

"Porque o médico da TV, Chris Steele, nunca mais vai comer pão: o especialista do programa This Morning conta como descobriu que tinha a doença celíaca


Imagem retirada da Net

Há três meses atrás, o Dr. Chris Steele começava a temer que havia algo de seriamente errado com ele. No ecrã, o médico da TV continuou a dar conselhos com um sorriso, mas as suas aparições no programa This Morning foram-se tornando cada vez mais difíceis. Sentia-se permanentemente esgotado e, se não tivesse compromissos, ficaria na cama até ao meio-dia, quando, normalmente, saltava para fora desta às 5 horas da manhã. Ele ficava incapacitado com dores abdominais e tinha bastante diarreia e, para fazer o programa, tinha que tomar entre quatro a seis comprimidos anti-diarréia. Também estava a perder peso, apesar de comer normalmente.

No fundo, estava preocupado que pudesse ter cancro do intestino. Embora os sintomas estivessem a piorar,estava a sofrer de dores de estômago e a sentir-se cansado há mais de um ano. Em Outubro passado, semanas após a diarréia e a fadiga extrema terem começado, visitou o seu médico de família - como acontece com muitos médicos, ele acha difícil ser objectivo quando se trata da sua saúde. O seu médico encaminhou-o para um especialista que lhe diagnosticou Síndrome do Intestino Irritável (SII) - uma condição desagradável, mas não fatal. O Dr. Chris, 64 anos, ficou muito tranquilo com isso.

"Na época, o diagnóstico fazia todo o sentido", diz o médico, casado e pai de quatro filhos, de Manchester. “Apesar de, olhando para trás, eu não ter inchaço, como muitas pessoas com SII têm - e cansaço não ser um sintoma típico. Estava apenas feliz de ter alguns medicamentos para isto, pois os sintomas estavam a fazer da minha vida uma miséria. O pior de tudo era que, às vezes, eu não tinha controlo sobre as minhas entranhas, e, uma vez, fui apanhado de surpresa na estação de comboios de Manchester. Foi a experiência mais humilhante e embaraçosa da minha vida. Por sorte, um taxista teve pena de mim e levou-me para casa, mas eu senti-me mesmo desconfortável ao contar à minha esposa. Isso afectou a minha auto-confiança e passei a verificar onde estavam as casas de banho sempre que saía. "

O Dr. Chris, como é carinhosamente conhecido, passou a tomar o medicamento Colpermin, para o SII, que relaxa o intestino e ajuda a parar os espasmos dolorosos. Mas este não fez nada para melhorar os seus sintomas. "Estava a ficar preocupado porque esperava que isto me ajudasse, pelo menos, um pouco", diz ele. "Comecei a pensar sobre o cancro do intestino novamente, pois todos já lemos sobre alguém que foi mal diagnosticado com SII”. Passadas algumas semanas, voltou ao especialista que executou uma análise de sangue para verificar se havia doença celíaca. Esta é uma sensibilidade ao glúten, a proteína encontrada no trigo, cevada e centeio. Dentro de 24 horas, os resultados deram positivo. O diagnóstico inicial de SII estava errado.

É um diagnóstico comum. Na verdade, o Dr. Chris teve sorte - a maioria dos celíacos têm que esperar, em média, 13 anos para obter um diagnóstico preciso, a partir da data em que experimentam os sintomas pela primeira vez. A doença celíaca afecta à volta de 600.000 britânicos. A ONG Coeliac UK estima que há mais meio milhão à procura de diagnóstico, ou mal diagnosticados.

Muitas pessoas pensam que a doença celíaca é uma alergia ao trigo. Na verdade, é uma condição auto-imune que faz o corpo começar a atacar-se quando os pacientes ingerem glúten, o que provoca anticorpos que fazem com que o revestimento do intestino inflame, causando dor abdominal. Após algum tempo, esta inflamação destrói as vilosidades – os minúsculos “dedos” na parede do intestino que absorvem os nutrientes dos alimentos. Sem isso, os nutrientes não podem ser bem digeridos. Se não for diagnosticada, muitas pessoas mostram sinais de desnutrição ou desenvolvem osteoporose, porque o corpo não absorve a quantidade de cálcio adequada ou vitamina D. É a incapacidade do organismo em absorver gordura correctamente que provoca fezes amolecidas.

É preciso uma predisposição genética para desenvolver a doença, mas o que a desencadeia é incerto. Alguns desenvolvem-na enquanto bebés assim que são desmamados e começam a comer glúten. A maioria tende a ter seus primeiros sintomas na vida adulta, quando começa, por vezes, depois de um surto de gastroenterite ou um período de stress. A experiência do Dr. Chris convenceu-o de que a profissão médica é muito rápida a fazer um diagnóstico de SII. "Não existe um teste para isso e quando alguém tem diarréia ou dor abdominal, é um diagnóstico fácil de fazer. Eu sou, talvez, culpado disso mesmo e a ironia adicional é que tenho sido um embaixador da Coeliac UK nos últimos três anos. "

Um problema é que nem todos os médicos de família estão cientes do que procurar. "Um dos sintomas mais comuns que vejo entre as pessoas com doença celíaca é a fadiga extrema", diz o professor Peter Howdle, gastrenterologista consultor que, até recentemente, dirigia uma Clínica de Doença Celíaca no Hospital Universitário de St. James, em Leeds. "Isso porque não absorvem o ferro, logo são anémicos. Mas os médicos de família são ensinados que a doença celíaca é uma doença do intestino, logo, a menos que haja sintomas intestinais, eles não a consideram. " Como no caso do Dr. Chris, a doença pode ser diagnosticada com um exame de sangue. Este fez depois uma biópsia ao intestino, que revelou que a maior parte das vilosidades havia sido exterminada.

Ele acha que deve ter tido esta condição durante anos, sem saber - especialmente porque, através de um raio-X, descobriu que também tinha o início de osteoporose na espinha, um sinal de deficiência de cálcio de longo prazo. "Eu acho que os sintomas vieram gradualmente durante muito tempo, mas só quando tive os problemas intestinais é que prestei atenção", diz ele. "Fiquei bastante surpreso ao ser informado aos 64 anos que tinha a doença celíaca, e totalmente surpreso em saber que tinha osteoporose - não tenho historial familiar disso. "Um sintoma pode ser fezes que flutuam - este é um sinal de que não se absorve a gordura adequadamente. “As minhas foram assim durante anos, mas eu ignorei. No entanto, estou preocupado que muitas pessoas continuarão a sofrer, pois não vão dizer ao seu médico de família "você está errado".

"As pessoas podem-se sentir muito melhor apenas com uma simples mudança de dieta. Alguns medicamentos para ajudar no SII contêm glúten, o que irá torná-las mais doentes. Gostaria de exortar as pessoas com SII para pedirem aos seus médicos - educadamente - se podem fazer um teste para a doença celíaca". O diagnóstico precoce é vital, pois além de osteoporose, a doença celíaca pode aumentar o risco de cancro do intestino e causar problemas de infertilidade. Ao contrário da crença popular, a maioria das pessoas que recebe o diagnóstico não são muito jovens, ao invés, têm idades entre os 44 e 55 anos, e nem todos têm sintomas intestinais.

O Dr. Chris está à espera que os seus filhos, agora entre os 20 e 30 anos, façam o teste. "Eu sei que, muitas vezes, há um elemento genético", diz ele. "Um dos meus filhos, o Andrew, é um atleta olímpico e se tiver DC, isso pode fazer toda a diferença no seu desempenho. Em Pequim, ele acabou por não ganhar uma medalha. "

Com uma dieta livre de glúten, os pacientes começam a sentir-se melhor dentro de um mês e as vilosidades podem voltar a crescer no prazo de um ano. No entanto, o Dr. Chris acha fácil fugir à dieta. “Em casa, está tudo bem. A minha esposa cozinha, e eu como muitos legumes, batatas, peixe e aves. Mas, quando estou fora, acho difícil." Na semana passada, viu-se preso num comboio durante cinco horas e comeu um pedaço de pão - mas pagou caro por isso. "Na manhã seguinte, tive uma diarréia terrível e senti-me tão fraco que não podia subir para o escritório situado no sotão da minha casa - era uma questão de dar 14 passos. Nesse momento, aprendi a minha lição ".

Outros artigos:

Celiac Disease In The Elderly

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Entre tachos e panelas

Depois de descobrir aqui a receita do No Knead Bread, ainda que cinco anos depois de ser publicada no NY Times,  fiquei a pensar como se poderia aplicá-la ao pão sem glúten. O pão, cujas particularidades se traduzem em não ser amassado, ficar a levedar durante cerca de 18 horas e, por fim, ir a cozer ao forno dentro de uma panela de ferro fundido, tinha um aspecto demasiado tentador para não me por a pensar como adaptá-lo.

Concluí que o ideal seria adoptar a parte da panela de ferro fundido, visto que o segredo parecia ser esse: as altas temperaturas que a panela suporta e a humidade que retem devido à sua tampa, recriam o ambiente de um forno profissional de padaria e permitem que o pão adquira uma crosta estaladiça. A panela da Le Creuset recomendada por muitos, tinha um preço proibitivo, mas em pesquisas pela Net, encontrei vários padeiros caseiros que diziam que a panela senior da Ikea funcionava igualmente bem.

Uma ida ao Ikea e 40 euros depois, a panelinha já estava pronta para entrar ao serviço... e fez tudo o que diziam que fazia. Usei esta receita e, em vez de levar o pão ao forno numa forma, coloquei a massa na panela que esteve a aquecer no forno durante 20 minutos (mínimo) a 230ºC. Pode-se salpicar o fundo da panela com farinha antes de colocar a massa para prevenir que esta se pegue, mas se a panela estiver suficientemente quente, em teoria, não pega (cuidado com as queimaduras).

O pão que saiu do forno, após 30 minutos a cozer tapado e mais dez destapado, saiu a crepitar, a dar estalinhos, como se festejasse. Eu também festejava, o ter feito um pão que não deve nada ao pão com glúten, e que qualquer pessoa acreditaria ser um pão "normal". Pão agora, cá em casa, é na panela.









sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Por falar em médicos

Eis mais notícias do Dr. Oz, que tem trabalhado a favor da divulgação da intolerância ao glúten junto do público americano, através do seu famoso programa e que, em Portugal, passa na SIC Mulher. Desta vez, trago o Dr. Oz em dose dupla: uma entrevista que deu ao canal Fox News acerca da intolerância ao glúten e que serve de prenúncio ao início da nova temporada; o primeiro episódio desta conta com a colaboração de Elisabeth Hasselbeck, uma conhecida apresentadora de TV americana e doente celíaca.

O Dr. Oz revela-se como um acérrimo defensor da dieta sem glúten e afirma, a dada altura da sua entrevista, que, quando um paciente se queixa de que não se sente bem, a sua primeira recomendação é uma dieta sem glúten. Pessoalmente, parece-me extremo se não realizar testes para a doença celíaca antes do início da dieta e estabelecer (ou não) o diagnóstico. Peca por excesso quando tantos outros pecam por falta; eu defendo, como diz o povo, que a virtude deverá estar no meio. Se se pode estabelecer o diagnóstico de DC, é óptimo que haja médicos informados; caso se trate de um caso de sensibilidade ao glúten não-celíaca, por outro lado, é óptimo que haja médicos capazes de aconselhar a dieta quando as análises e/ou biópsia são negativas, mas os sintomas continuam a apontar para o glúten.

Enquanto não temos exemplos destes nos media portugueses, podemos sempre entreter-nos com o exemplo dos outros.

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Entrevista com o Dr. Fasano

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A revista Gluten Free Living fez uma extensa entrevista com o Dr. Alessio Fasano, um dos mais experientes e conhecidos investigadores na área da intolerância ao glúten. Este especialista já foi mencionado neste blog, aqui e aqui. Esta entrevista é muito interessante e elucidativa sobre o estado actual e futuro do estudo da intolerância ao glúten. O original está disponível aqui ; deixo, então, alguns excertos da entrevista:

 




Acerca do motivo que desencadeia a DC:
“Outro assunto importante foi um recente estudo do Centro que encontrou, surpreendentemente, a duplicação da doença celíaca a cada 15 anos desde 1974. Fasano disse que o estudo, que mostrou a doença celíaca a aumentar à medida que as pessoas envelhecem, sugere que genes e glúten não são os únicos responsáveis ​​pelo desenvolvimento da doença celíaca. As bactérias também podem estar envolvidas.”

Sobre um possível tratamento, um comprimido que está na fase final de estudo:
“Para mim, o comprimido terá a grande vantagem de paz de espírito, apenas isso. Não o vejo como uma alternativa para a dieta isenta de glúten. Vejo-o como um complemento ou um apoio à dieta livre de glúten.”

O problema da falta de diagnóstico:
“Saímos de uma situação onde a doença celíaca foi completamente negligenciada para outra onde os Centros de Controle de Doenças consideram-na uma ameaça à saúde pública, pelo seu carácter único que dá origem a muitos não diagnosticados. (...) Noventa por cento e mais das pessoas com a doença não são diagnosticadas. Elas consomem o sistema de saúde.”

Alteração no método de diagnóstico da DC:
“Nós publicamos um artigo que dizia que vamos ser um pouco mais flexíveis. Vamos definir cinco critérios principais e dizer que você tem de preencher quatro dos cinco:
Um, tem que ter sintomas que sabemos estar relacionados com a doença celíaca, diarreia, anemia, qualquer um;
Dois, tem que ter os auto-anticorpos que usamos para o diagnóstico- anti-transglutaminase tecidual e anticorpos anti-endomísio;
Três, tem que ter os genes HLA-DQ2 e / ou HLA-DQ8;
Quatro, a biópsia mostra danos;
Cinco, os sintomas têm de desaparecer com o início da dieta sem glúten.
Com esta fórmula, se tiver sintomas, os auto-anticorpos, os genes HLA e sintomas que desaparecem, você pode evitar a biópsia.”

“É raro, mas 2 a 3 por cento das pessoas que são diagnosticadas com DC não tem os genes HLA-DQ2/DQ8. Nestes casos, a biópsia seria essencial. É óbvio que a grande maioria daqueles que têm a doença celíaca vai preencher todos os cinco critérios, mas há excepções.”

“Fui eu que disse que a regra de ouro era a biópsia. Agora digo que estava errado. (...) Talvez em 90 de 100 casos, a biópsia seja a regra de ouro, mas em dez casos a biópsia não é exacta.”

Quando fazer a introdução do glúten na alimentação infantil:
“Há duas escolas de pensamento. Uma diz que se você atrasar a introdução do glúten, apenas retarda o aparecimento da doença celíaca. A outra diz que talvez se deva dar tempo ao sistema imunitário para amadurecer e lidar melhor com o glúten. Eu diria que se der tempo para o sistema imunológico amadurecer e o microbioma se tornar o correcto, está a dar uma oportunidade à tolerância ao glúten, se não para a vida, pelo menos, por um longo, longo tempo.”

Acerca da sensibilidade ao glúten não-celíaca:
“Fizemos, no nosso Centro, uma análise de quase 6.000 pessoas. Uma pequena percentagem tem alergia ao trigo, cerca de 0,01 por cento. As pessoas que têm doença celíaca formam um por cento. O que é espantoso é que a grande parte são pessoas que têm sensibilidade ao glúten. Eles compõem 6-7 por cento dos pacientes que atendemos. A nível nacional são 20 milhões de pessoas (...).”

“A forma como abordamos esta história é a seguinte: se você tiver sintomas relacionados com a exposição ao glúten, olhamos para onde irá cair no espectro. Tem alergia a trigo-não. Tem a doença celíaca- não. Então, por exclusão, você é visto como sensível ao glúten. Temos pesquisas a sair que começam a dar-nos pistas para alguns possíveis marcadores com que podemos contar, para fazer o diagnóstico de sensibilidade ao glúten.”

Frases avulsas:
“O mercado sem glúten vale 1,7 mil milhões de dólares e cresce, agora, 20 por cento ao ano.”

“Agora, o meu objectivo principal é mudar o nome de doença celíaca para condição celíaca. Não quero mesmo ter a palavra "doença" ali.”

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O bom anfitrião

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Li há pouco um artigo no Daily Mail que abordava a falta de paciência da Martha Stewart para com convidados que abusavam do telemóvel e daqueles com restrições alimentares, como se fossem situações comparáveis. Achei estranho porque já tinha visto receitas sem glúten da D. Marta, exímia dona de casa, mas, provavelmente, queria apenas agradar aos seus espectadores, numa altura em que o número de pessoas a seguir esta dieta aumenta a olhos vistos nos EUA. O problema é que a opinião dela reflecte a de muitos outros que acham que intolerantes ao glúten, à lactose, ou soja, são apenas "esquisitos" com a comida. E são muitos a pensar assim... logo, quando há pessoas que se dão ao trabalho de preparar uma refeição sem glúten por causa do meu filho, a minha gratidão e apreço são a dobrar. Felizmente, ainda são algumas. Um excerto do artigo:

"Quanto às alergias, a sua resposta também não é ambivalente:
'Oh meu Deus! Não pergunte! A minha regra é não perguntar sobre restrições alimentares ", diz ela, claramente avessa a fazer um esforço extra para alguns convidados.
 "Tivemos um jantar de caridade – apareceram-nos todos os tipos de restrições. Foi horrível!”, recorda ao jornal.
A cozinheira mestre, aparentemente tão acolhedora e controlada, faz uma concessão menor.
 "Você deverá estar semi-preparado", diz ela de acerca dos “esquisitos a comer”. "Mas não se preocupe com isso. Todos podem perder uma refeição. "

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Produtos Salutem

A Salutem é uma empresa de produtos "naturais" que apresenta uma pequena selecção de produtos sem glúten, mas que tem vindo a crescer, ainda que o seu website não o reflicta. Nesse âmbito, já encontrei à venda no Intermarché umas baguettes sem glúten desta marca em versão normal e integral, em duas visitas que fiz; contudo, já não as encontrei da última vez que lá fui. Outro produto que encontrei e que recomendo pelo bom sabor (não pelo preço- à volta de 2,5€, ou qualidade nutricional) foi este:















Já pesquisei no site por estes novos produtos, mas não os encontro, pelo que não sei se ainda estarão a testar o mercado. Fica, contudo, a chamada de atenção para esta marca que parece estar a querer entrar no mercado "sem glúten", e que, inclusive, já aplica a nova rotulagem de alergéneos, distinguindo o que é "isento de glúten" do que tem "muito baixo teor de glúten".

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Bolo de cenoura

Mais uma receita de bolo para começarmos bem o mês, desta vez um clássico: o bolo de cenoura, que é algo que os miúdos acham que não vão gostar, mas, depois, dizem que até nem é mau, ao pedirem uma segunda fatia. Entre as múltiplas receitas de bolo de cenoura sem glúten que circulam na Net, usei esta como base, e acrescentei pedaços de outras para chegar à que aqui apresento, um pouco como se fosse um "Frankenstein" culinário. Mas bom, sem ataques de raiva, nem cicatrizes à mostra.

Ingredientes:
280 gramas de farinha
½ colher de chá de goma xantana (se a farinha que usar não a incluir)
1 ½ colher de sopa de canela em pó
½ colher de chá de noz moscada em pó
1 colher de chá de fermento em pó
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
4 ovos L
175 ml de óleo vegetal
250 gramas de açúcar mascavado
1 colher de chá de essência de baunilha
300 gramas de cenouras raladas finamente
60 gramas de coco ralado

Cobertura:
200 gramas de queijo mascarpone
Açúcar em pó a gosto
Sumo de lima a gosto
Raspa de lima

Misture bem a farinha com a canela, a noz-moscada, a goma xantana, o fermento e o bicarbonato. Reserve.

Separe as claras das gemas e bata-as em castelo. Reserve.

Na cuba da sua batedeira, bata os ovos com o óleo até estarem bem misturados e acrescente, depois, o açúcar e a essência de baunilha. Misture tudo muito bem.

Adicione então, aos poucos, a farinha misturada previamente. Acrescente as cenouras raladas e o coco. A massa ficará, então, mais húmida e será mais fácil acrescentar (com cuidado) as claras em castelo.

Coloque na forma desejada e vai ao forno pré-aquecido a 180ºC durante 45 minutos. Verifique com um palito se está pronto; caso esteja, retire e deixe arrefecer completamente numa rede de arrefecimento.

Enquanto isto, prepare a cobertura misturando o queijo mascarpone com o açúcar e algumas colheradas de sumo de lima, a gosto. Mantenha no frigorífico, até à altura de servir o bolo, quando deverá cobrir o topo com o creme. Decore com a casca de lima ralada, para um maior colorido.

Deve-se conservar no frigorífico até terminar, por causa do queijo mascarpone.



















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