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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A depressão e o glúten


Imagem retirada da Net
Depressão é uma palavra que aparece muitas vezes ligada às condições associadas ao glúten. Apareça antes ou depois do diagnóstico, é uma situação comum a muitos que lidam com uma vida sem glúten ou que deveriam fazer uma vida sem glúten. Isto porque, ser diagnosticado com a doença celíaca, com a alergia ou sensibilidade ao glúten, significa mais do que encontrar alimentos aptos à dieta. O desenvolvimento de uma atitude positiva é importante também para o bem-estar individual. Se fosse apenas uma questão de mudar a dieta, uma pessoa recém-diagnosticada não experimentaria perturbações emocionais – o que acontece frequentemente.

Isto porque, para além daqueles a quem a depressão já acompanhava antes do diagnóstico, existem outros que a vêm chegar com o início da dieta. É normal que haja um período inicial de tristeza, raiva e luta pelo que se perde, mas a maior parte das pessoas ultrapassa esta fase e começa a apreciar o facto de se sentir completamente bem, uma sensação que já não sentia há muito. No entanto, conheço pessoas que não conseguem ultrapassar o sentimento de perda, que se perdem em lamentos pelo que já não podem comer e caem na depressão. Alguns lutam também com a incompreensão de amigos e família que não “acreditam” no diagnóstico.

É, então, importante que se faça um esforço para mudar a atitude do copo meio-vazio, para aquela do copo meio-cheio. Uma atitude positiva para com a intolerância ao glúten pode ser construída seguindo algumas destas ideias:

 - Aceitar o diagnóstico: antes de mais, aceitar que se tem uma condição que não permite comer certos alimentos. Façam o luto, façam uma última refeição cheia de glúten, despeçam-se do que não podem mais comer, no fundo, enterrem o “falecido” para que a vida prossiga. Existem medidas proactivas que podem ajudar com a aceitação:
 • É importante para a pessoa falar com a família e amigos sobre o que vai significar fazer a dieta, expressar todos os sentimentos que surgem - bons e maus, e partilhar a informação;
 • Quando existem, aderir a grupos de apoio e associações que podem fornecer informações e apoio. Caso não haja, descobrir outros intolerantes ao glúten e tentar organizar reuniões informais, pois tão bom como um ombro amigo, é um ombro que sabe exactamente o que estamos a passar;
 • Um bom médico pode fornecer aconselhamento e supervisão na mudança de dieta.

 - Dar ênfase aos alimentos sem glúten: mais uma vez, a atitude positiva que vence a depressão é aquela que se concentra em tudo o que pode comer e ignora o que não pode. Um intolerante ao glúten pode comer tantas coisas, porquê carpir aquilo que não pode e que é substituível com alguma facilidade?

- Socializar sem glúten: quando o indivíduo se sentir com força, deve ir para sítios, sejam restaurantes ou casas de amigos, onde haja uma atmosfera de apoio, de modo a aliviar o isolamento. Deve, contudo, informar-se com antecedência sobre o que estará disponível para comer e ver o que será necessário trazer.

Como já contei neste blog, a médica do meu filho mais velho disse que tinha “boas notícias” quando me ligou com o resultado da biópsia. Só posso concordar, pois quando me poderia ter dado várias notícias muito desagradáveis, disse-me apenas que ele era tinha doença celíaca. Deixo de seguida um artigo interessante sobre a depressão e o glúten, com referências a estudos que têm sido feitos.

“A Doença Celíaca e a Depressão
Há relação entre o glúten e a depressão?
Por Nancy Lipid, About.com Guide

A Depressão (assim como outros distúrbios comportamentais) pode, às vezes, estar relacionada com a doença celíaca. Em muitos estudos, crianças e adultos com doença celíaca apresentaram taxas mais elevadas de depressão do que indivíduos sem doença celíaca. Alguns desses estudos foram feitos em pacientes com doença celíaca não tratada (isto é, quando ainda ingeriam glúten). Noutros casos, e mesmo quando a pesquisa envolveu pacientes com doença celíaca e a fazer dieta isenta de glúten, estes ainda tinham taxas mais altas de depressão, em comparação aos não-celíacos.

Fazer uma dieta sem glúten ajuda a aliviar a depressão em pacientes com doença celíaca?
Se a depressão do paciente está relacionada com a má absorção de nutrientes, iniciar uma dieta sem glúten pode ajudar, porque os intestinos curam-se e a absorção de nutrientes melhora. Alguns investigadores acreditam que a má absorção pode interferir com a manipulação pelo corpo de neurotransmissores que regulam o humor. Em particular, deficiências de triptofano relacionadas com a má absorção, parecem contribuir para a depressão em pacientes com doença celíaca. O triptofano é necessário para que o corpo produza serotonina, que é o neurotransmissor central envolvido na regulação do humor e ansiedade.

Em pacientes com doença celíaca não tratada - e mesmo em alguns pacientes com doença celíaca a cumprir a dieta isenta de glúten – a deficiência de vitamina B6 também pode ter um papel na depressão. Num estudo escandinavo, por exemplo, pacientes com doença celíaca e depressão não relataram melhoria da sua depressão passado um ano sobre o início da dieta livre de glúten. Após 6 meses de tratamento com vitamina B6, no entanto, os seus sintomas depressivos melhoraram significativamente.

Outros efeitos secundários de má absorção podem causar sintomas capazes de serem confundidos com depressão. Por exemplo, uma deficiência de ácido fólico, devido à má absorção pode causar apatia, fadiga e perda de memória. A deficiência de ferro, com ou sem anemia, pode produzir sensações de cansaço e fadiga. Num estudo de adolescentes entre os 12 a 16 anos de idade com doença celíaca, na Finlândia, aqueles que estavam deprimidos antes de iniciarem uma dieta livre de glúten, tinham certos desarranjos hormonais bioquímicos associados com a depressão. Após 3 meses a fazer a dieta, esses mesmos adolescentes tinham melhorado a sua bioquímica hormonal e obtido uma diminuição significativa nos sintomas psiquiátricos.

Uma dieta sem glúten nem sempre é a solução para a depressão. No entanto, por motivos que, às vezes, são entendidos e outras não. Pelo menos dois estudos italianos atribuíram maiores taxas de problemas emocionais em pacientes celíacos a fazer a dieta sem glúten devida às dificuldades de adaptação à doença e à dieta. Num dos estudos, os pacientes com doença celíaca eram mais ansiosos e sentiam que a sua qualidade de vida tinha piorado. Em vários outros grandes estudos publicados, incluindo um estudo da Suécia, envolvendo mais de 13.000 pacientes com doença celíaca, os autores encontraram taxas mais elevadas de depressão entre os celíacos sem glúten, mas não foram capazes de identificar as razões específicas.

O que deve fazer se estiver deprimido?
• Se tiver a doença celíaca, pergunte ao seu médico se precisa de fazer as análises específicas da doença, para se certificar que não está a ingerir glúten acidentalmente, o que pode estar a causar a sua depressão. Pergunte também ao seu médico se deve ser avaliado para deficiências de vitaminas.
• Enquanto isso, pergunte ao seu médico, ou a alguém em quem confie e que tenha experiência em saúde mental - por exemplo, um enfermeiro, assistente social ou conselheiro religioso – como obter tratamento. Não tente lutar sem ajuda.”

Outros artigos:
Celiac Disease and Depression

2 comentários:

Gea disse...

Olá,

A minha filha tem alergia ao glúten, curiosamente foi-lhe diagnosticada logo nas primeiras papas, ainda sem glúten... começou com uma reação alérgica ao arroz e ao milho, que com o crescimento, foi ultrapassada, mas manteve a alergia ao glúten. E apesar de nunca ter ingerido na vida trigo, centeio ou aveia com glúten já teve reações cutâneas e respiratórias com o simples contato cutâneo, acidental, com farinha de trigo.
Para ela não foi um drama porque nunca houve alteração da dieta dela...ela sempre foi assim. Mas também posso dizer que para nós, passado o choque inicial foi uma oportunidade para melhorarmos a alimentação da família: à excepção do pão, não usamos produtos com glúten cá em casa. E toda a família partilha as mesmas refeições. Achámos que isso seria melhor para ela (para não se sentir diferente na sua própria casa) e para nós (mais prático e não haver risco de enganos na confeção da comida). E na procura de novos produtos, novas receitas, etc. melhoramos em muito a alimentação da família.

Lucente disse...

Que óptimo seria se todos tivessem essa perspectiva optimista da dieta! Realmente é uma oportunidade para melhoria, não um problema. Ainda no outro dia vi uma frase que registei: "A dieta sem glúten não é um problema, é uma solução".

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