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segunda-feira, 10 de março de 2014

A diabetes e a doença celíaca

O post de hoje traz um artigo de Janeiro deste ano da revista Today's Dietitian e que aborda a temática da ligação frequente entre a Doença Celíaca e a Diabetes Tipo 1, o que tem sido atribuído a uma causa genética comum. Dada a sua extensão, traduzi apenas algumas partes.

"Sem Glúten Com Diabetes Tipo 1
Um diagnóstico de diabetes tipo 1 exige mudanças de estilo de vida, que incluem alterações alimentares, actividade física regular e um rigoroso regime de medicação. Um diagnóstico de doença celíaca também requer mudanças significativas de estilo de vida que envolvem uma dieta isenta de glúten (DIG).

Cada doença é difícil de gerir individualmente, mas se ambas são diagnosticadas, simultaneamente ou com anos de diferença, a vida dos afectados pode tornar-se ainda mais complicada. (...)

Diabetes Tipo 1 e Doença Celíaca
A Associação Americana de Diabetes relata que cerca de 1% da população dos EUA tem doença celíaca, enquanto que cerca de 10% das pessoas que têm diabetes tipo 1, também têm doença celíaca. Vários estudos têm explorado a possível ligação entre estas duas condições.

Um estudo de 2002 por Barera e colegas publicado na revista Pediatrics investigou a prevalência de doença celíaca em 274 crianças e adolescentes no início da diabetes tipo 1 e a ocorrência de novos casos durante um período de seis anos de acompanhamento. Os pesquisadores descobriram que a prevalência de doença celíaca em pacientes com diabetes tipo 1 foi aproximadamente 20 vezes maior do que na população em geral. "A prevalência de doença celíaca confirmada por biópsia em toda a coorte de pacientes foi de 6,2%", escreveram os autores. Estes concluíram que "60% dos casos de doença celíaca já estão presentes no início da diabetes, maioritariamente por diagnosticar, mas os restantes 40% desenvolvem a doença celíaca alguns anos após o início da diabetes."  

A pesquisa sugere que a diabetes tipo 1 e a doença celíaca compartilham uma etiologia genética. O Instituto Nacional de Saúde informou num artigo de Fevereiro de 2013, "Pesquisa Encontra Partilha Genética de Susceptibilidade entre a Doença Celíaca e Diabetes Tipo 1 - Campanha de Consciencialização da Doença Celíaca", que "um número crescente de pesquisas sugere que a diabetes tipo 1 é desencadeada pela exposição ao glúten... Adicionando ainda mais peso à teoria de que as duas condições compartilham causas genéticas comuns. "

O artigo referia-se aos resultados de um estudo britânico publicado em 25 de Dezembro de 2008, na edição do The New England Journal of Medicine. De acordo com esses investigadores, "Duas desordens inflamatórias, diabetes tipo 1 e doença celíaca, co-segregam em populações, sugerindo uma origem genética comum." Concluíram que "uma susceptibilidade genética para tanto a diabetes tipo 1 e doença celíaca partilham alelos comuns [locais num cromossoma]. Estes dados sugerem que mecanismos biológicos comuns, tais como o dano tecidual relacionado com auto-imunidade, e a intolerância a antigénios alimentares, podem ser características etiológicas [causais] das duas doenças."

O estudo alemão BABYDIAB, publicado na edição de Outubro de 2003 do The Journal of the American Medical Association, seguiu recém-nascidos entre 1989-2003 e examinou se a introdução precoce de alimentos que contêm glúten influenciou o risco de desenvolver diabetes tipo 1 e auto-anticorpos da doença celíaca. Os pesquisadores descobriram que a suplementação alimentar com alimentos que contenham glúten antes da idade de três meses aumentou significativamente o risco de auto-anticorpos da diabetes tipo 1, mas que a exposição precoce ao glúten não aumentou significativamente o risco de desenvolver auto-anticorpos da doença celíaca.

O Estudo TEDDY (The Environmental Determinants of Diabetes in the Young- Os Determinantes Ambientais da Diabetes nos Jovens) iniciado em 2002, é o acompanhamento de cerca de 8.000 crianças na Europa e América do Norte, investigando possíveis gatilhos para a diabetes tipo 1, incluindo a doença celíaca. Jill Norris, PhD, MPH, presidente do departamento de epidemiologia da Colorado School of Public Health e uma das investigadoras do estudo, diz que o Estudo TEDDY faz o rastreio da autoimunidade celíaca por causa do risco de diabetes tipo 1 em pessoas diagnosticadas com a doença celíaca. Ela acredita também que a diabetes tipo 1 e a doença celíaca partilham um marcador genético e diz que o Estudo TEDDY está à procura de factores ambientais compartilhados, incluindo factores dietéticos.

Há uma ligação com a diabetes tipo 2?
Enquanto as pesquisas sugerem uma associação entre diabetes tipo 1 e doença celíaca, não parece haver uma ligação entre a doença celíaca e a diabetes tipo 2, uma vez que esta não é uma doença auto-imune e não compartilha genes com a doença celíaca. De acordo com a Celiac Sprue Association, os indivíduos podem ser geneticamente predispostos a diabetes tipo 2, mas esses genes não aumentam o risco de doença celíaca. (...)

Efeitos do glúten na glicémia
Imagem retirada da Net
Os diabéticos tipo 1 com doença celíaca que fazem uma dieta sem glúten não só se sentem melhor, mas também têm leituras glicémia mais estáveis. Em pessoas com doença celíaca, o glúten impede a absorção de hidratos de carbono no intestino, o que, muitas vezes, causa inexplicáveis picos de açúcar no sangue, explica a dietista Linda Reineke, que trabalha com pacientes com diabetes tipo 1 e doença celíaca, enquanto parte do programa de diabetes do University of New Mexico Hospital. Outros componentes dos alimentos também afectam as flutuações de açúcar no sangue, quando combinados com a ingestão de hidratos de carbono. Por exemplo, a gordura retarda a digestão. "Às vezes, os alimentos são absorvidos, outras vezes não, dependendo da diversidade na refeição", explica.

Esta especialista, enquanto seguia um cliente com diabetes tipo 1 ao longo de vários anos, encontrou-se constantemente com níveis variáveis de glicémia. Um colega na sua equipa sugeriu que o paciente poderia ter doença celíaca. "Ele foi testado e tinha anticorpos positivos para a doença celíaca", lembra. "Assim que começou a ingerir alimentos sem glúten, a sua glicémia ficou muito melhor." (...)

Desafios ao evitar o glúten
No entanto, eliminar todos os alimentos que contenham glúten duma dieta pode complicar a maioria dos aspectos da vida dos pacientes com diabetes tipo 1. Estes fazem a contagem de hidratos de carbono antes de comer as refeições e, em seguida, comparam-nos com a dose de insulina correcta. Eles também devem ter em conta a ingestão de proteínas e fibras alimentares. Isto representa um desafio, porque muitos alimentos processados sem glúten ​​são ricos em hidratos de carbono, mas pobres em proteínas e fibras. (...)

Educação do Paciente
Em última análise, a educação é a chave para viver bem com diabetes tipo 1 e doença celíaca. Os pacientes precisam de estar bem informados sobre as duas doenças e saber geri-las através da actividade física, medicamentos e nutritivos alimentos sem glúten que se encaixam num plano de refeições amigo da diabetes.

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