Já é sabido que a ingestão de glúten mais a existência de genes que predispõe à intolerância ao glúten são factores necessários para que a condição se instale. O terceiro factor são as condicionantes ambientais e aí, os investigadores ainda não conseguiram identificar o que faz “disparar o alarme”. As teorias são várias: uma gravidez, uma cirurgia, stress emocional, uma infecção gastrointestinal… Não se consegue mesmo saber quando a doença se instalou, i.e., não há uma sucessão lógica de eventos. Apesar de, por exemplo, termos sido operados ao apêndice e de se terem seguido fortes crises intestinais que levaram a um diagnóstico de DC, não se consegue estabelecer uma relação causal- a DC podia ser pré-existente mas só se ter manifestado com sintomas óbvios após a cirurgia.
Imagem retirada da Net |
O estudo de 2012 que trago hoje aponta um possível caminho. Este estudo sueco foi feito no âmbito de, na Suécia, se ter dado um grande aumento nos casos de doença celíaca em crianças menores de dois anos de idade. Uma equipa de investigação estudou a possível ligação entre infecções precoces nesse período da vida da criança e doença celíaca, assim como o seu possível papel na explosão de casos de doença celíaca em crianças suecas.
“Infecções precoces estão associadas a risco aumentado para a doença celíaca: um estudo de ocorrência de casos-referentes
Resumo
A doença celíaca é definida como uma "enteropatia crónica do intestino delgado imuno-mediada precipitada pela exposição ao glúten em indivíduos geneticamente predispostos. A Suécia tem experimentado uma "epidemia" da doença celíaca em crianças abaixo de dois anos de idade. A etiologia da doença celíaca é considerada multifactorial, no entanto, pouco se sabe a respeito do risco ou potenciais factores de protecção. Apresentamos dados sobre a possível associação entre o início de episódios de infecção e doença celíaca, incluindo a sua possível contribuição para a epidemia sueca de doença celíaca.
Métodos
Um estudo de ocorrências de casos – referentes de base populacional (475 casos, 950 referentes) com informações sobre a exposição ao glúten obtidas por meio de um questionário (onde se incluía as características da família, alimentação infantil e da saúde geral da criança) foi realizado. Os casos de doença celíaca foram diagnosticados antes dos dois anos de idade, cumprindo os critérios diagnósticos da Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição. Os referentes foram selecionados aleatoriamente a partir do registo da população nacional depois de cumprirem critérios de correspondência. As análises finais incluíram 954 crianças, 373 (79%) casos e 581 (61%) referentes, com informações completas sobre as principais variáveis de interesse de um conjunto combinado de um caso com um ou dois referentes.
Resultados
Ter três ou mais episódios infecciosos relatados pelos pais, independentemente do tipo de infecção, durante os primeiros seis meses de vida foi associado com um risco significativamente aumentado de doença celíaca mais tarde, e este permaneceu após o ajuste para a alimentação infantil e situação socioeconómica (rácio de probabilidade [OR] 1,5, intervalo de confiança de 95% [IC], 1,1-2,0, P = 0,014). O risco de doença celíaca aumentou sinergicamente se, além de ter vários episódios de infecção, as crianças tiveram grandes quantidades de glúten introduzidas na dieta, em comparação com quantidades pequenas ou médias, após a amamentação ter sido interrompida (OR 5,6, 95% CI, 3,1-10; P <0,001).
Conclusão
Este estudo sugere que ter episódios de infecção repetidos no início da vida aumenta o risco para a doença celíaca mais tarde. Além disso, encontramos um efeito sinérgico entre infecções precoces e a quantidade diária de ingestão de glúten, mais acentuado entre as crianças em quem o aleitamento materno foi interrompido antes da introdução do glúten. Quanto à contribuição para a epidemia sueca de doença celíaca que, em parte, foi atribuída a alterações simultâneas na alimentação infantil, as infecções precoces provavelmente tiveram uma pequena contribuição através do efeito sinérgico com a quantidade de glúten ingerida."
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