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Nos E.U.A. existe a ideia que só uma bala podia ter parado um homem tão vigoroso como o Presidente Kennedy. No entanto, o que se ignorou durante muitos anos é que Kennedy era um homem doente. A abertura ao público de alguns registos médicos e outros documentos pessoais, em 2002, permitiu que o historiador Richard Dallek divulgasse num artigo da revista Atlantic Monthly, a imagem de um homem doente, afligido por condições misteriosas que os seus médicos não conseguiam explicar.
Com base nesse artigo, o Dr. Peter Green do Centro da Doença Celíaca da Universidade de Columbia teorizou, num artigo para a History News Network, que era provável que Kennedy tivesse a doença celíaca. Por certo, muitos doentes celíacos poderão encontrar semelhanças entre as suas histórias médicas e a do ex-presidente; no entanto, sem espécimes biológicos para testar, fica-se apenas pela teoria.
Já o Dr. Lee Mandel, num artigo intitulado Endocrine and Autoimmune Aspects of the Health History of John F. Kennedy, no jornal Annals of Internal Medicine, em 2009, teorizou que o que afligia Kennedy era a Síndrome de Schmidt, ou APS 2. Curiosamente, refere a dada altura do seu texto que “Outras condições autoimunes estão associadas com APS 2. Estas incluem gastrite atrófica crónica (com ou sem anemia perniciosa) em 4,5% a 11% dos casos, e hipogonadismo hipergonadotrófico em 4% a 9% dos casos. Além disso, a incidência da doença celíaca é muito maior em pacientes com doença autoimune da tiróide e adrenal, um facto interessante dado que Kennedy teve sintomas gastrointestinais (cólicas, diarreia, incapacidade de ganhar peso) durante a maior parte da sua vida.”
Deixo então o artigo do Dr. Peter Green, traduzido para Português. Gostaria de chamar a atenção para o facto de ter sido escrito ou em 2002 ou em 2004 (o site que o publica não é claro), daí alguma informação referente à DC, em particular os dados genéticos, não estarem a par com o conhecimento actual.
“JFK terá sido vítima de uma doença não diagnosticada comum aos irlandeses? Por Peter Green
O Dr. Green é Professor de Medicina Clínica, director do Centro de Doença Celíaca na Columbia University College of Physicians and Surgeons.
Novas revelações que apareceram no New York Times e na The Atlantic Monthly sobre a saúde de John F. Kennedy têm levantado dúvidas sobre a sua condição física durante a sua presidência. Robert Dallek, na revista Atlantic Monthly de Dezembro, descreveu em "As atribulações médicas de JFK", problemas médicos de longa data que começaram na infância. Na adolescência de Kennedy, descreveu sintomas gastrointestinais, peso e problemas de crescimento, bem como fadiga. Mais tarde na vida, sofreu de dor abdominal, diarreia, perda de peso, osteoporose, enxaqueca e doença de Addison. Problemas de costas constantes, devido a osteoporose, resultaram em várias operações e medicamentos necessários para a dor crónica. Ele foi extensivamente analisado em grandes centros médicos, incluindo a Clínica Mayo e hospitais em Boston, New Haven e Nova York. Entre os múltiplos diagnósticos que lhe fizeram incluem-se úlceras, colite espasmódica, colite, síndrome do intestino irritável, e alergias alimentares. Os seus medicamentos incluíam corticosteróides, antiespasmódicos, Metamucil e Lomotil. No entanto não se percebe se os seus médicos chegaram a um diagnóstico definitivo.
A revisão dessa história médica levanta a possibilidade de que JFK tinha a doença celíaca. A doença celíaca é causada pela ingestão de glúten, que é o componente principal das proteínas do trigo e outros cereais, tais como centeio e cevada. O intestino delgado desenvolve atrofia das vilosidades, o que resulta em dificuldades na absorção dos nutrientes. Diarreia e dor abdominal são sintomas comuns. A eliminação de glúten da dieta promove a resolução da condição inflamatória do intestino e os sintomas associados, e previne as complicações da doença. Uma dieta livre de glúten ao longo da vida é, então, necessária. As pessoas com doença celíaca, desde que adiram à dieta, têm uma longevidade normal.
A doença celíaca pode-se apresentar em qualquer idade. Na infância, pode causar diarreia crónica, dor abdominal, e problemas de crescimento, comportamentais e de desenvolvimento. Em indivíduos mais velhos, a doença celíaca faz-se notar frequentemente devido ao desenvolvimento de complicações da doença. Estas incluem anemia, osteoporose, erupções cutâneas ou problemas neurológicos. Os problemas neurológicos incluem neuropatia, epilepsia, ataxia (distúrbios do equilíbrio) e enxaqueca. Enquanto a doença é mais comum em mulheres, os homens são afectados também. A osteoporose é comum em pacientes com doença celíaca, os homens, geralmente, são mais afectados do que as mulheres. Os sintomas gastrointestinais da doença celíaca persistem durante muitos anos antes do diagnóstico e são, muitas vezes, atribuídos a uma síndrome do intestino irritável ou colite espasmódica. Normalmente, os pacientes vão a muitos médicos antes do diagnóstico da doença celíaca.
As doenças autoimunes ocorrem mais frequentemente em pacientes com doença celíaca do que a população em geral por um factor de 10. Habitualmente, a doença autoimune assume maior significado clínico do que a doença celíaca e, em resultado disso, é diagnosticada em primeiro lugar. Os distúrbios autoimunes associados incluem disfunção tireoidiana, psoríase, dermatite herpetiforme (uma erupção cutânea intensamente pruriginosa), síndrome de Sjogren e doença de Addison. Os parentes de pacientes com doença celíaca têm um risco maior, não só de doença celíaca, mas também de outras doenças autoimunes.
A Ligação Irlandesa
A doença celíaca foi anteriormente considerada uma doença rara da infância. Hoje, é reconhecida como sendo muito comum em pessoas de ascendência europeia, uma das condições geneticamente determinadas mais comuns que os médicos vão encontrar. Estudos recentes têm demonstrado que o país com a maior prevalência é a Irlanda. Em Belfast, um em 122 tem a doença.
A associação familiar facilmente verificável da doença indicada pela ocorrência em um por cada dez parentes de primeiro grau e em 80 por cento de gémeos idênticos aponta para uma componente genética da doença. No entanto, os verdadeiros genes responsáveis pela doença não foram descobertos, embora existam muitos grupos de trabalho sobre o assunto. Sabe-se que existe uma forte associação com genes HLA específicos, que são necessários para a doença ocorrer, mas são, eles próprios, insuficientes para a doença se manifestar.
A herança irlandesa de Kennedy, a longa duração de queixas gastrointestinais (desde a infância), o diagnóstico de síndrome do intestino irritável e dor de cabeça, a presença de osteoporose severa, e o desenvolvimento da doença de Addison, todos levam a um diagnóstico presuntivo da doença celíaca. Foram dados a Kennedy esteroides para os seus problemas. O uso de esteroides está associado com o desenvolvimento de osteoporose e doença de Addison. No entanto, os esteroides foram inicialmente utilizados na prática clínica na década de 1930 e 1940 para vários fins, que não são considerados adequados agora. No caso de Kennedy, se realmente tinha a doença celíaca, os esteroides teriam suprimido a inflamação no intestino e reduzido os seus sintomas, tornando o diagnóstico de doença celíaca menos provável de ocorrer. A descoberta da doença de Addison na sua irmã, defende, no entanto, uma causa familiar para a sua doença de Addison, ao invés de uma iatrogénica.
Poderia a doença celíaca ter sido diagnosticada a Kennedy durante a sua vida? Possivelmente. A doença foi identificada pela primeira vez em 1887, bem como o seu tratamento com uma dieta de eliminação. Admitia-se que podia ocorrer em todas as idades. No entanto, foi só em 1950 que a escassez de pão durante a Segunda Guerra Mundial e a sua posterior reintrodução na Holanda precipitou a identificação do trigo como uma causa da síndrome de má absorção. Embora tenha sido na década de 1970 que os médicos tomaram conhecimento das apresentações mais subtis da doença. O diagnóstico da doença celíaca requer inicialmente que se a considere uma possibilidade num dado indivíduo, mas muitos médicos não ponderam o diagnóstico.
No entanto, seria possível diagnosticar a doença celíaca em JFK agora, se biópsias feitas durante a sua vida, ou o material de autópsia do intestino delgado tivessem sido arquivados e fossem agora disponibilizados. As amostras de sangue congeladas também poderiam fornecer material de diagnóstico, pois existem testes sorológicos agora disponíveis, que são sensíveis e específicos para a doença.
Um diagnóstico da doença celíaca, se tivesse sido feito, poderia ter sido tratado apenas com dieta. Isto teria impedido todas as manifestações da doença e as suas complicações. Devido à forte componente genética da doença celíaca, a família de Kennedy poderá também estar interessada em obter o diagnóstico.”
2 comentários:
Muito interessante, obrigada pelas informações que passa no blog!
Eva, obrigada eu pela visita!
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