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segunda-feira, 6 de maio de 2013

Dieta sem testes


Imagem retirada da Net

Ultimamente com a dieta sem glúten na moda, existem muitas pessoas que iniciam a mesma sem o devido aconselhamento ou apoio por parte de nutricionista. O objectivo é, para a maior parte delas, o emagrecimento, mas não se trata aqui a questão de tal se justificar ou não, visto que as opiniões divergem.


O que me preocupa são os casos daquelas pessoas que podem até ter doença celíaca ou sensibilidade ao glúten não-celíaca e, por falta ou fraca orientação, iniciam a dieta sem os despistes necessários. Muitas fizeram exames sem validade científica e foram aconselhadas a deixarem o trigo, entre outros inúmeros alimentos. Sem a devida motivação, e perante uma dieta muito restrita, desistem, quando, na realidade, algumas necessitavam mesmo de uma dieta isenta de glúten.

Deixo aqui alguns motivos para que se faça os devidos despistes, antes de iniciar uma dieta isenta de glúten (baseado neste artigo de uma médica norte-americana).

1. Você tem doença celíaca

Se você tiver doença celíaca (DC) e parar de comer glúten, o que é que acontece? Você sente-se melhor! Se tem sensibilidade ao glúten não-celíaca (SGNC) e parar de comer glúten, o que é que acontece? Você sente-se melhor! Não consegue ver a diferença entre estas duas entidades, sem testes. Porque é que isso é importante? Ainda não se sabe muito sobre a SGNC, mas até agora parece ser diferente da DC em aspectos importantes. Os testes celíacos não a encontram, e a biópsia não a mostra. Não parecem ser a mesma doença, e é importante saber qual tem.


A SGNC é real. Algumas pessoas ficam muito doentes ao comer glúten e não têm a DC. Mas, ao contrário do que se encontra pela Internet, neste momento, não há nenhuma maneira cientificamente comprovada para diagnosticar a SGNC com um teste de laboratório. A SGNC só pode ser diagnosticada através de um processo de exclusão, sob a supervisão de um médico para certificar-se de que outras doenças graves com sintomas semelhantes não são ignoradas. Primeiro, deve descartar a DC. Se os resultados forem negativos, pode eliminar o glúten da sua dieta, incluindo as fontes de contaminação cruzada. Se uma dieta isenta de glúten resolve os seus sintomas, você e o seu médico podem concluir que tem SGNC. Fazer os testes à DC é o primeiro passo no diagnóstico apropriado da SGNC.

3. Pelo bem-estar dos seus filhos

A DC é genética. Se você tem a DC, há uma hipótese dos seus filhos terem ou poderem vir a desenvolvê-la. Se tem a DC, mas não faz o diagnóstico e apenas assume que é SGNC, toda a sua família pode ser afectada por esta escolha. Recomenda-se que todos os parentes de primeiro grau (irmãos, filhos, pais) de qualquer pessoa diagnosticada com DC devam ser rastreados para a mesma, tenham ou não quaisquer sintomas. Os parentes de segundo grau sintomáticos (tias, tios, primos, sobrinhos e sobrinhas) também devem ser rastreados.

Há mais probabilidades do pediatra do seu filho solicitar o rastreio da DC, se algum familiar directo tiver sido devidamente diagnosticado. Nos casos de apresentação atípica isto é ainda mais importante, porque nem todos os médicos estão familiarizados com as diferentes apresentações da DC, pelo que um antecedente familiar assume particular relevância. Se se colocar na categoria dos SGNC, iniciando a dieta sem fazer testes, é menos provável que o médico dê credibilidade a esse “diagnóstico”. Se não se testa para o seu próprio bem, faça-o pelos seus filhos.

4. Precisa de saber que nível de cuidados ter

Sabemos que basta uma migalha de glúten para adoecer um paciente celíaco. Tendo sintomas ou não, o dano está a acontecer. Sabemos como as pessoas com DC têm que ser cuidadosas com a contaminação cruzada. Mas não sabemos que cuidados os pacientes com SGNC precisam de ter. Normalmente, a maioria dos pacientes sensíveis ao glúten não é tão cuidadosa como os pacientes com DC. Será que o facto de terem SGNC lhes permite serem mais despreocupados? Cientificamente falando, simplesmente, não se sabe.

E se tiver a doença celíaca, mas não está consciente disso? Talvez pense que é "apenas sensível ao glúten", e vai ingerindo um pouco de glúten aqui e ali, ou é menos cuidadoso com a contaminação cruzada. Será que essas pequenas quantidades de glúten o colocam em risco de complicações? Se tiver a DC, a resposta é sim. Mesmo se não tiver sintomas externos da ingestão de pequenas quantidades de glúten – o que acontece a alguns - o dano está a acontecer e os riscos aumentados para a saúde acumulam-se.

5. Quer poupar dinheiro

É mais provável os custos com as análises para a DC serem comparticipados do que um teste de sensibilidade ao glúten sem comprovação científica. Faça o painel de análises necessário e válido para a DC antes de iniciar uma dieta isenta de glúten e ignore a oferta, habitualmente cara, de sites de laboratórios com validação científica aparente para testar a SGNC. Ao descartar a DC, então pode eliminar o glúten da sua dieta (de graça) e ver se os seus sintomas desaparecem.


Se descartou a DC e não viu melhoras com uma dieta isenta de glúten, neste momento, com o conhecimento de que dispomos, isso quer dizer que o glúten não o afecta. Assim, tendo descartado as duas condições mais comuns associadas ao consumo de glúten, não há qualquer necessidade de manter uma dieta isenta de glúten sobrecarregando as suas finanças pessoais.

7. Há ajudas do Estado

O Estado português atribui, de há uns anos para cá, um complemento ao abono de família no valor de 59,48€, até aos 24 anos de idade no caso de DC. Mesmo nos casos em que não há lugar à atribuição de um abono de família, este complemento é pago aos portadores de DC. Mas há que fazer prova de diagnóstico e a maior parte dos médicos só irá atestar que o diagnóstico de DC é real quando foram realizadas provas conclusivas. Deste modo, caso opte por não fazer as provas ao seu filho, não poderá solicitar esta importante ajuda  quando se ponderam os custos de uma dieta isenta de glúten.

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