Encontrei um artigo interessante sobre a dieta sem glúten e o seu efeito na performance desportiva de vários atletas, que saiu na edição de Novembro do ano passado da revista americana Sports Illustrated. Fica, então, a tradução:
"A Correr do Glúten
A eliminação desta proteína tem dado a muitos atletas um impulso substancial de energia
Alessio Fasano é um homem ainda mais ocupado desde que ele e 15 colaboradores publicaram um estudo na revista BMC Medicine de Março último que mostrou que era possível ser sensível à proteína do glúten que existe no trigo, cevada e centeio, bem como em algumas sopas e espessantes, sem ter doença celíaca com todos os seus sintomas. Atletas de todo o mundo entraram em contacto com Fasano, o director do Centro de Pesquisa Celíaca da Universidade de Maryland, à procura de orientação sobre como limitar a ingestão de glúten. Ciclistas profissionais procuram a ajuda de Fasano desde 2008; agora, ele faz três viagens anuais à Europa para consultar com atletas de elite do ténis, basquetebol, futebol, wrestling e natação.
Mais e mais atletas que fazem uma dieta isenta de glúten acreditam que esta aumenta a sua energia. Alguns, como a corredora de longa distância, norte-americana, Amy Yoder Begley, fazem-no porque têm a doença celíaca; outros, incluindo o quarterback dos Saints, Drew Brees, e o tenista de topo Novak Djokovic, fazem-no porque são sensíveis ao glúten, e uns quantos intrépidos, incluindo a equipa de ciclismo profissional Garmin-Transitions, fazem-no porque procuram um diferencial competitivo. Com a consciencialização do glúten em ascensão por causa do crescente número de pessoas com problemas de saúde decorrentes da ingestão desta proteína, a dieta isenta de glúten ou a dieta com baixo teor de glúten não são susceptíveis de se juntar aos programas “baixos hidratos/altas proteínas” (para não mencionar os “altos hidratos/ baixas proteínas”) que se encontram no caixote de lixo das tendências de alimentação para atletas.
Embora o glúten possa ser uma fonte de proteína para a maioria das pessoas, a pesquisa de Fasano revela que 6% da população dos EUA pode ser sensível ao glúten, experimentando dores de estômago, dores de cabeça ou depressão após a ingestão da proteína. Menos prevalente (mas ainda em crescimento) é a doença celíaca, que faz com que o sistema imunitário do corpo ataque e inflame o intestino após a ingestão da proteína.
O glúten, que não fazia parte da dieta humana até as pessoas começarem a cultivar ervas selvagens para alimento há 10.000 anos atrás, não consegue ser totalmente processado pelas enzimas no organismo, mesmo em pessoas que não são sensíveis ao glúten. Considere o seguinte: de acordo com Fasano, os sucos digestivos no estômago são tão corrosivos para a proteína da carne que se mergulhasse um dedo neles, se veria o osso em 30 segundos, mas os mesmos sucos não conseguem polir o glúten de um pequeno pedaço de pão que seja. "Algumas partes do glúten tem a digestibilidade de uma rocha", diz Chaitan Khosla, um professor de engenharia química de Stanford. "Ele fica por lá, a marcar passo, até ir para o intestino."
A comunidade médica ainda não sabe porque é que alguns atletas sentem mais energia após a eliminação do glúten, mas Fasano acredita que é por causa da estadia prolongada do glúten no tracto digestivo: o sangue que é necessário nas extremidades e no cérebro é desviado para o estômago para ajudar na digestão do glúten, diminuindo o fornecimento de energia e desempenho. Inquirido sobre o porquê da incidência da doença celíaca ter duplicado nos últimos 15 anos, Fasano diz que os produtores de trigo têm, cada vez mais, cultivado as suas colheitas de modo a ter mais (e, possivelmente, diferente) glúten para dar à comida um sabor e textura mais agradáveis. "Os cereais do seu bisavô não são os seus cereais", diz ele.
Amy Yoder Begley, uma norte americana campeã olímpica nos 10.000 metros, viaja com um guia de restaurantes que têm menus sem glúten. Para obter os hidratos de carbono que o seu corpo precisa para transformar glicose em combustível para o exercício, ela come alimentos ricos nesses nutrientes mas que não são preenchidos com gordura ou açúcar, como bananas, massa de arroz, polenta e batata-doce. A sua dieta é um modelo para um número crescente de atletas. "Tudo que ela conhecia enquanto hidratos de carbono [sem glúten] eram coisas como batatas e doces", diz Krista Austin, uma fisiologista que ajudou a formatar a dieta à medida de Amy Yoder Begley. "Hoje em dia, quase todos os atletas com quem trabalho, por lazer ou profissão, perguntam sobre o glúten."
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