Quando fomos com o meu filho mais velho a Londres numa altura já pós-diagnóstico, fomos porque sabíamos que seria mais fácil viajar devido a todas as opções sem glúten que a cidade oferece. No entanto, de todos os locais em que fizemos refeições sem glúten, ficou-nos na memória um restaunte italiano, Il Cotto, em que o dono (assim como mais alguns membros da sua extensa família italiana) é celíaco. A simpatia com que nos trataram e, em especial, o miúdo, mais os pratos que pudemos escolher, não nos deixaram mais esquecer este local.
Na altura achei estranho haver tantos casos de DC numa só família, mas depois li que a taxa de diagnósticos em Itália é bastante alta, o que contribuiu para a alargada consciencialização desta temática entre os seus cidadãos transalpinos. Este artigo do Legal Nomads, que hoje divulgo, trouxe-me à lembrança o restaurante londrino, junto ao London Eye, onde uma vez fizemos uma refeição descomplicada, tão perto do normal quanto possível.
"É surpreendentemente fácil comer sem glúten na Itália
Eu não esperava sofrer por falta de comida na Itália. Já tinha visitado, antes de decidir ouvir o meu médico e o meu corpo e cortar com o glúten por completo. Fui diagnosticada com a doença celíaca há mais de uma década, mas teimosamente ignorei-a durante anos, esperando que o diagnóstico fosse um erro, ou talvez uma intolerância em vez de uma alergia. (...)
Eventualmente fiquei suficientemente doente e ganhei juízo, tendo chegado a um ponto em que quase tudo – com ou sem glúten- me fazia mal. Mas, primeiro, fui para a Itália e, voluntariamente, estupidamente, ignorei a dor de estômago. Comi massa, mas também comi presunto e melão, macio queijo burrata, ilicitamente delicioso com o seu maravilhoso leite crú. Havia paninis, mas também pilhas de carne de porco assada e salame, com sabor e textura. E, assim, ao planear o meu regresso à Itália este ano, esperava ficar a salivar de inveja sobre as pizzas e pratos carregados de trigo - mas também sabia que haveria muito por onde escolher na Úmbria, mesmo para um celíaco.
No entanto, enquanto eu contava com algumas refeições memoráveis, não percebi como a Itália conseguia acomodar na perfeição aqueles com doença celíaca. Não só houve uma grande variedade de pizzas, massas e pães totalmente isentos de glúten, mas todos sabiam o que significava ter a doença celíaca. (...)
Fiquei atónita.
Na Inglaterra e na América do Norte, as pessoas geralmente estão a par das alergias alimentares e na maioria das maiores cidades, existem opções sem glúten. É inegavelmente muito mais popular viver sem glúten nos dias de hoje. Nem todos aqueles que defendem a dieta são diagnosticados com a doença celíaca, alguns seguem rigorosas dietas paleo, outros simplesmente sentem-se mais saudáveis sem glúten. Não estou, de todo, a criticar isso - a moda de cortar como glúten significou que eu tenho muito mais para escolher quando vou à mercearia. No entanto, o conhecimento do público da doença celíaca - o que é e o que faz aqueles cujos corpos rejeitam o trigo - é muito mais baixo do que eu percebia. (...)
Imaginem o meu espanto: a cada volta na Itália, todos sabiam o que era a doença celíaca. Além disso, ficavam animados: "Ah sim! Um desses! Não tem problema, aqui está o que nós lhe vamos dar em substituição”. Eu estava ansiosa à medida que se aproximava o dia de ir para a Umbria, preocupada se iria ser uma chata na viagem, com as visitas de imprensa no pós-conferência ou forçada a recusar uma refeição quando chegasse à mesa. Não foi assim. Por exemplo, a talentosa chef (mais conhecida pela avó da família) no restaurante I Mandorli tinha preparado uma série de pratos simples, mas requintados (...). Lá pegaram-me pela mão e mostraram-me exatamente, entre o que estava sobre a mesa, o que era seguro.
(...)
Esta não foi a primeira nem a última das refeições especialmente preparadas na minha curta visita à Úmbria. O local da conferência tinha uma variedade incrível de opções sem glúten, independentemente da refeição. Os empregados de mesa reparavam em mim, colocavam um pão sem glúten no forno e, em dez minutos, eu teria um enorme prato de comida. É claro que era um pouco mais de amido do que o que estava acostumada.
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As opções sem glúten estendiam-se até ao aeroporto, no meu voo de Florença. Também lá existiam massas congeladas disponíveis em vez das tradicionais opções cheias de glúten. (Não importa que soubessem mal - foi uma vitória ter uma refeição apta, não podemos ter tudo.)
Então, por que é a Itália é tão hospitaleira para os celíacos?
(...)
Decidi perguntar à Rebecca de Umbria on the Blog se minhas suspeitas estavam correctas. Ela indicou-me a Letizia Mattiacci, que - entre outros posts - bloga sobre suas próprias lutas para evitar o trigo. A Letizia respondeu rapidamente:
"Lembro-me de ter visto, há um tempo atrás, um estudo holandês que afirmava que as variedades de trigo moderno têm maior teor de glúten tóxico do que as variedades tradicionais. Depois, há o problema da sobre-exposição. O trigo e o amido modificado estão por todo o lado, logo os italianos têm uma exposição certamente maior do que os outros pois comemos muita massa e somos grandes comedores de pão. De acordo com a Associação Celíaca italiana, cerca de 1% dos italianos são celíacos. Consequentemente, não é de surpreender que encontre muitas opções sem glúten na Itália. (…) "
E como a Rebecca observou num post no blog de sua autoria, a exposição é muito mais profunda do que isso. As crianças são rotineiramente despistadas para a doença celíaca, e os celíacos obtêm um subsídio do Estado para compensar o custo mais elevado dos alimentos sem glúten. Além disso, Maria Ann Roglier, autora de O Guia Sem glúten para a Itália, observa que a lei italiana exige que os alimentos sem glúten estejam disponíveis em escolas, hospitais e locais públicos. (E que se pode fazer um mestrado em doença celíaca, a partir do diagnóstico até à sua gestão.)
Bem, isso explica o aeroporto de Florença.
Mas uma coisa ainda me incomodava: o país não sabia apenas sobre a doença celíaca, este aceitava-a. Eles compreenderam que isto é um problema e mudaram-se em ao redor dele para acomodar as suas refeições, e fê-lo com gosto. (...)
Acresce a isto o facto das farinhas alternativas estarem na moda, produtos como a espelta e o kamut (que contêm glúten), mas também o trigo-sarraceno, o arroz e a soja. Além disso, as farinhas de grão-de-bico e castanha fazem parte da cozinha italiana há séculos. (...)
Quando fui diagnosticada com a doença celíaca, fui a casa da minha melhor amiga em Montreal para jantar. A sua família é italiana e estavam habituados a ver-me comer a sua massa sem problemas. Mencionei-lhes que seria incapaz de comer qualquer prato com trigo, centeio ou cevada e o seu pai, completamente sério, com um aceno lento da sua cabeça, disse "Jodi, esse é um destino pior do que a morte."
Não é surpresa então que eu esperasse que a Itália iria reagir da mesma maneira. Mas, em vez disso, este foi o lugar mais fácil para onde eu viajei com esta doença. E em vez de falar apenas de comida, queira focar este facto aparentemente paradoxal e curioso, porque acredito que muitos de nós que evitam o glúten não estão cientes de como é um grande lugar para visitar."
Olá tudo bem? Adorei seu post, talvez vá a Itália esse ano, numa cidadezinha chamada Controle, você sabe me dizer se encontro comidas sem gluten em cidades rurais? Ou em supermercados?
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